Pessoa com deficiência, no Brasil, é não-cidadão’
País não garante a esta população
os direitos básicos
“A pessoa com
deficiência, no Brasil, vive uma situação de não-cidadão”. Quem afirma é Teresa
Costa d’Amaral, superintendente do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa
com Deficiência (IBDD). Segundo ela, o País não garante a esta população os
direitos básicos. Na análise da especialista, ir e vir, possibilidade de
locomoção, acesso à escola e ao trabalho são alguns itens como os quais
brasileiros com limitações físicas (ou intelectuais) não podem contar.
Semelhante é a
avaliação de Moisés Bauer, presidente do Conselho Nacional dos Direitos da
Pessoa com Deficiência (Conade), instituição vinculada à Secretaria Especial
dos Direitos Humanos, que responde diretamente à Presidência da República. “Na
escala de prioridades do Estado brasileiro, o assunto está lá embaixo. Os
investimentos são pulverizados e as ações, maquiadas”. Bauer, de 42 anos,
deficiente visual desde os 8, ocupa também o cargo de presidente da Organização
Nacional dos Cegos do Brasil. “A ausência de políticas públicas no nosso País
cria um cenário de vulnerabilidade e precariedade à pessoa com deficiência”.
Para o psicólogo
Danilo Namo, consultor em inclusão de pessoas com deficiência do Instituto
Paradigma, o tema não é prioridade para setores como política e infraestrutura.
“A situação geral está melhorando, mas é regular. Falta interesse e os
estabelecimentos particulares, por exemplo, não percebem a pessoa com
deficiência como público específico, que precisa de atendimento especial”.
Namo, que perdeu totalmente a visão durante a adolescência, é mestre de
psicologia pela PUC e tem doutorado em Educação Especial
pela USP.
Omissão - De acordo
com Teresa d’Amaral, “falta adaptação nas escolas e faculdades, como a presença
de intérpretes de Libras. O resultado só existe mediante pressão ou boa vontade
de alguém da instituição”. Ela cita o exemplo de uma aluna deficiente visual
que foi impedida de fazer uma prova porque o professor se recusou a aumentar o
tamanho da letra para que ela pudesse enxergar as questões e conseguisse
responder. “Isso é uma questão de respeito à cidadania”, afirma a
superintendente do IBDD.
Em outro caso, um
paciente que sofria de distrofia muscular ganhou na Justiça o direito de
receber um respirador. “Nós também pedimos uma cama hospitalar e uma cadeira de
rodas, mas o juíz negou e, desta forma, impediu que essa pessoa pudesse sair de
casa”, lembra. Teresa afirma que os governos Muncipal, Estadual e Federal são
omissos, uma vez que o cidadão precisa ir à Justiça para ter seus direitos
básicos garantidos. “O País perde em qualidade de participantes da cidadania e
estas pessoas acabam pesando financeiramente ao Estado”.
Diante deste quadro,
Moisés Bauer defende uma legislação mais direta. “Faltam aperfeiçoamentos na
lei e punições ao gestor público. A acessibilidade se torna possível para quem
tem dinheiro, mas o cidadão sem condições financeiras não consegue quase nada”,
observa o presidente do Conade.
Danilo Namo afirma que
a estrutura jurídica para o setor “é boa, completa, abrangente e competente”.
Segundo o consultor do Instituto Paradigma, “no papel, todos os direitos da
pessoa com deficiência estão resguardados, mas ainda falta atenção”. Namo
ressalta ainda que “o espírito solidário do brasileiro é algo que nos
diferencia”.
Exemplo - A Lei 7.853,
de 1989, já foi considerada, por seu conteúdo, a mais inclusiva das américas.
Nela, o Estado assume responsabilidade pela pessoa com deficiência. Em países
como os EUA, a partir deste mesmo ano, houve uma transformação, que começou nos
pós-guerra do Vietnã, quando as instituições de defesa se uniram e trabalharam
em conjunto para garantir não só que a lei fosse efetivamente executada, mas
também para fazer valer os direitos das pessoas com deficiência. Canadá e Inglaterra
também têm bons exemplos.
No Brasil, o tema está
ainda em uma sub-pauta e começou a ser realmente debatido somente nos últimos
dez anos.
Fonte: Estadão
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