segunda-feira, 9 de julho de 2012

Traumas são a “doença” do século

Especialistas reunidos na tarde desta quinta-feira (5/7/12), no Ciclo de Debates Siga Vivo: pelo fim da violência no trânsito, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, cobraram mais investimentos do poder público na prevenção de acidentes. “Doença do século”, “epidemia” e “chacina” foram os nomes utilizados para definir a principal causa de morte nas quatro primeiras décadas de vida da população brasileira. Os expositores do painel “O atendimento às Vítimas de Acidentes de Trânsito” reforçaram a participação crescente das motos nos acidentes de trânsito, que causam uma morte a cada 11 minutos.
Segundo o chefe da Cirurgia-Geral do Hospital João XXIII, Domingos André Fernandes Drumond, a prevenção dos acidentes passa pela educação para o trânsito, pela reavaliação das habilitações para dirigir e por uma maior responsabilidade do poder público. Ele avalia como equivocadas as políticas atuais de prevenção, com campanhas esporádicas na TV, por exemplo. O médico usou imagens dos acidentados atendidos no João XXIII para mostrar a violência dos traumas, sobretudo em motociclistas. “Não há grandes acidentes sem velocidade alta. E há uma relação entre velocidade e álcool”, lembrou.
O major Sebastião Carlos Fernandes, do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), também ressaltou que os acidentes podem ser evitados, como ocorreu em outros países, que viram esses índices regredirem nos últimos anos. Ele citou uma campanha de conscientização realizada no Canadá, segundo a qual o acidente é, na verdade, uma negligência. O trauma, de acordo com o major Carlos, é previsível e é um problema de Polícia, já que envolve mais controle e fiscalização. “Os radares na BR-381 reduziram em 50% as mortes”, exemplificou, citando reportagem.

Custo – Segundo Domingos Drumond, para cada dez leitos da rede pública de saúde, quatro a cinco estão ocupados por pacientes com traumas. Há custos ainda com reabilitação e previdência, chegando a um total estimado de R$ 22 bilhões/ano no Brasil. Isso sem contar o custo social. As chamadas causas externas, que incluem os acidentes de trânsito, matam 130 mil brasileiros por ano e deixam “uma legião de sequelados”, segundo o médico.

Motociclistas lideram ranking de resgate em Minas


Os acidentes com motos estão no topo das estatísticas tanto dos Bombeiros quanto do Hospital João XXIII. Foram 22 mil resgates de motociclistas em 2011 em Minas Gerais, o maior índice entre os cinco tipos de acidentes de trânsito classificados pelo CBMMG. No HPS, na Capital, foram 4.221 atendimentos em 2011, mais que o dobro do número de acidentados em automóveis. Os motociclistas também têm as lesões mais críticas. “É crescente ainda o número de idosos atropelados por motos”, salienta o médico Domingos Drumond.
O coronel Edson Alves Franco, do CBMMG, frisou a importância das discussões sobre o trânsito e afirmou que foi a partir de uma audiência pública realizada em Brasília que houve a unificação de informações entre os Bombeiros e o Samu, evitando a duplicidade de atendimento de uma mesma ocorrência. Os militares apresentaram a situação atual da corporação, presente em 52 municípios mineiros, a expectativa de ampliação de unidades e ainda os projetos de educação que desenvolve.

Estado – Já o superintendente de Atenção à Saúde da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Marcílio Dias Magalhães, falou sobre a rede de urgência e emergência implantada no Estado a partir de 2003. Como as estatísticas apontam que metade dos acidentados morrem no local do acidente, ele avalia que mesmo que o serviço de urgência e emergência seja perfeito, ainda assim evitará apenas os outros 50% restantes. Daí a necessidade de repensar comportamentos, avalia o superintendente.
O Estado, de acordo com Marcílio Dias, vem fortalecendo as portas de entrada do serviço, criando redes de urgência e emergência nas macrorregiões de Minas e implantando a classificação de risco dos pacientes. Hoje, três macrorregiões têm o serviço do Samu: Norte, com sede em Montes Claros, Centro-Sul, em Barbacena, e Nordeste/Jequitinhonha, em Teófilo Otoni. Até 2104, segundo ele, todas as regiões serão atendidas. A previsão de investimentos em urgência e emergência, segundo o superintendente, é de R$ 250 milhões em 2012.

Deputados também defendem sensibilização da sociedade
O painel da tarde foi coordenado pela deputada Maria Tereza Lara (PT), para quem a sociedade ainda não percebe a gravidade do conjunto dos acidentes no País. “É como se caísse um boeing por dia”, comparou. Ela salientou que, além das etapas do ciclo de debates que foram realizadas no interior, as discussões em Belo Horizonte estão chegando a mais de 300 municípios, através da TV Assembleia.
O deputado Bosco (PTdoB), realçou a parceria de mais de 50 entidades para a realização do evento e afirmou que não basta melhorar as vias ou investir no transporte coletivo para reduzir os acidentes. “Precisamos de conscientização”, reiterou. Ele citou proposição em tramitação na ALMG para incluir a educação para o trânsito no currículo das escolas de ensino médio. O Ciclo de Debates Siga Vivo: pelo fim da violência no trânsito continuou nesta sexta-feira (6/7), na ALMG.

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