FONTE: Gazeta do Povo
Nesse mês uma aluna do último ano de Administração me procurou para
conversar sobre o seu trabalho de conclusão de curso. Ela teve a ideia
de desenvolver o projeto de um bar completamente preparado para receber
pessoas com deficiência e que use desse preparo como diferencial para
atrair a clientela. O projeto foi barrado e impedido de continuar, pelos
seguintes motivos:
• O empreendimento não teria mercado. Pessoas com deficiência não frequentam casas noturnas, bares e afins.
• O empreendimento não teria mercado. Pessoas com deficiência não frequentam casas noturnas, bares e afins.
• As pessoas com deficiência não dispõem de recursos financeiros para usufruir desse serviço.
• As pessoas sem deficiência se sentiriam desconfortáveis em um estabelecimento voltado para deficientes.
Alguém mais, além de mim e dessa aluna, discorda completamente disso?
O
bar iria contar com rampas de acesso, cardápios em braile, um
profissional com domínio de Libras, banheiros adaptados e as mesas
seriam dispostas visando a boa circulação de cadeira de rodas. Era nesse
conjunto de medidas que a aluna estava apostando para apresentar um
negócio inovador, requisito pontuado pela orientação.
Além disso, a aluna trabalharia com a norma NBR-9050,
da ABNT, que estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem
observados quando do projeto, construção, instalação e adaptação de
edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos às condições de
acessibilidade.
É espantoso ver que uma postura como essa está
dentro de uma universidade, sendo transmitida para futuros
administradores. Dizer que deficiente não sai. Afirmar que um projeto
que visa inclusão é uma perda de tempo. Reafirmar preconceitos.
Que
tal olhar o projeto como algo sim inovador, que visa atender uma
clientela ainda não contemplada? Se a pessoa com deficiência não
freqüenta estabelecimentos noturnos, por se sentir mal acolhida, podemos
propor um espaço que mude esse conceito, não podemos?
Eu debati
recentemente aqui no blog o aumento do número de pessoas com deficiência
no Brasil, tendo duas referências principais: o IBGE e o DPVAT. De
acordo com o Censo do IBGE 2010, o Brasil tem hoje cerca de 45 milhões de pessoas que apresentam algum tipo de deficiência. Em 2000 esse grupo chegava 24,5 milhões.
Casos
de invalidez permanente, entre pessoas vítimas de acidentes de trânsito
se multiplicaram por quase cinco entre 2005 e 2010, passando de 31 mil para 152 mil por ano.
E esse número não parou de aumentar. Até setembro de 2011, já eram 166
mil casos, segundo o DPVAT, seguro obrigatório pago por proprietários de
automóveis. Os dados revelam que a maioria dos acidentados (mais de 70%
dos casos em 2011) usava moto e está em plena idade economicamente ativa, entre 18 e 44 anos.
O dado mais pontual que eu encontrei em relação ao poder econômico de pessoas com deficiência veio da Reatech, a segunda maior feira de acessibilidade e reabilitação do mundo, que acontece anualmente em São Paulo.
A expectativa de movimentação de recursos na última edição foi de R$ 550 milhões em
negócios, só durante a Feira. Ainda de acordo com a Reatech, o setor de
produtos e serviços para reabilitação movimenta cerca de R$ 1,5 bilhão no País, ao ano, sendo R$ 200 milhões só com vendas de cadeiras de rodas e R$ 800 milhões em automóveis e adaptações veiculares.
Público
para o empreendimento existe sim e dinheiro também. Temos bares em
diferentes bairros, para diferentes classes, com diferentes preços. E
tem bolso para tudo também.
Desenvolver um bar que fosse modelo
em adaptação e atendimento à pessoa com deficiência tem a ver com
cumprimento de normas técnicas, com sustentabilidade (uma vez que ele
contempla o pilar social e o pilar cultural), apresenta oportunidades
legais de marketing e comunicação com o público e agregaria valor ao
bairro e à cidade. É um ótimo exercício e poderia perfeitamente ser
aceito.
Mas não, ao invés disso, o profissional que tem como
função fomentar ideias para o futuro foi conservador e tolheu uma
proposta diferente, vinda de uma estudante com vontade de quebrar um
paradigma, de arriscar.
Você, empreendedor, o que achou dessa proposta?
Enviado por Rafael Bonfim,
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