"Viver a Vida" com bons frutos
Tenho acompanhado as discussões sobre a novela "Viver a Vida" e, assim como a Nara, vou meter minha colher para algumas considerações. Acho que a novela teve realmente o papel, como já foi colocado aqui, de levantar a questão da deficiência dentro de um novo parâmetro que é o da diversidade humana.Esta é uma posição pioneira, e claramente percebida ao longo dos vários depoimentos, abordando situações dentro deste largo espectro da diversidade humana. Ponto muito positivo, que tem a ver com a concepção atual para a deficiência. Outro ponto importante, foi apresentar a deficiência em suas reais dimensões, graças, muito especialmente, à consultoria prestada pela Flávia Cintra que não deixou a novela resvalar para um campo perigoso e tentador, de colocar a "superação" como sinonimo de "cura". A personagem Luciana sentou e permaneceu na cadeira de rodas até o final da novela, escapando dos costumeiros "milagres" que acontecem para um final feliz. Este final "feliz" pode acontecer em cima da situação da própria deficiência, e isto eu considero um ponto importantíssimo. Quer dizer, a pessoa, passando por uma crise, como a deficiência é na vida de uma pessoa (como outras tantas crises que passamos), pode ir processando as perdas que a situação provoca e ir encontrando recursos para caminhar, direcionar-se para seus desejos, interesses e opções de vida. Não é este o sentido de vida independente? Que a pessoa, mesmo com as limitações mais severas, encontre seu caminho, dentro daquilo que deseja para si mesma? Eu acho que qualquer crise em nossas vidas (e a instalação de uma deficiência é uma crise) tem este poder de levar as pessoas para novas direções, tanto num sentido positivo, quanto negativo. Isto é, a pessoa pode elaborar a crise de um modo construtivo, ou não. Depende de sua história de vida e dos recursos que tenha estruturado internamente. No caso da Luciana, ela contou, como pessoa, com os recursos que ela possuia, e que permitiram uma condição de dar continuidade a seus projetos de vida. Não há nada de heróico nisto. Depende da capacidade das pessoas de "viver a vida", dentro das mais diversas condições que a vida oferece.
Lilia Pinto MartinsPresidente do CVI-Riowww.cvi-rio.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário